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“Baseada em fatos reais.”

Autora: Letícia Nunes
Croatá- São Gonçalo do Amarante / CE
Publicado em 20/02/2014

1476420_546137225476339_489765292_nDespedidas. Esta era sempre sua resposta quando lhe perguntavam sobre o que não gostava – na verdade, odiava. Nunca comparecia a festinhas de despedida ou velórios, jamais acompanhou alguém que estava indo embora ao aeroporto. Fazia isso, porque todo esse sentimento despedaçava o seu coração. Principalmente quando sabia que alguém estava perto de partir.

Naquele dia ela estava sofrendo ainda mais, por ver seus avós doentes e não conseguir imaginá-los partindo. Queria aproveitar todos os momentos possíveis com eles, mas simultaneamente todas as visitas pareciam ser a despedida. Com isso a dor só aumentava, o que a fazia odiar ainda mais as tais despedidas.

Apesar de repudiar tanto essa sensação, ela a admirava, pois mesmo causando dor e sofrimento, davam fruto a um incrível sentimento; a saudade. Não aquela saudade “sentida” por pessoas que mal se conhecem, que dizem sentir falta de algo que não viveram apenas por aparência. Não aquela saudade exposta que em um texto no facebook, com o intuito de ganhar curtidas sem ser fundamentada por realidade. O sentimento que surgia era completamente real, que não precisa ser espalhado, que nem mesmo palavras são capazes de traduzir toda a dor contida, nem de transmitir toda a pureza e beleza daquele sentimento.

E com a saudade de todas as pessoas que já foram embora, e o receio – e ódio – das despedidas e partidas que ainda estão por vir, ela segue a vida. E mesmo com o coração partido e com o nó na garganta, ela prossegue. Afinal, junto com as partidas, vem as chegadas, como o sol que se põe e volta a brilhar no outro dia. E dessa forma – com idas e vindas -, vale a pena viver cada momento, como se realmente fosse o último.

Os meus porquês

Autora: Julie Fernandes
Teresina / PI
Publicado em 19/02/2014

muahamhauMuitas pessoas dizem que o mundo não é justo, que é difícil. Mas observo que na realidade as pessoas é que são difíceis e injustas consigo mesmas.

Eu estava indo à escola quando dei de cara com o mesmo muro de sempre. Foi grafitado por artistas que tenho curiosidade em conhecer. Passei um ano indo e voltando por esse caminho, e demorei seis meses para entender cada imagem do muro. Sempre que passo por essa parte da Avenida, o sinal está fechado. Então passo uns dez segundos olhando para ele. Ele faz-me pensar no quanto somos frágeis. Manipulados facilmente.

Por que nos contentamos com tão poucas provas? Ou até com nenhuma? Por que nos acostumamos com a ideia de que pessoas irão tomar o que é nosso, e o pior, por que achamos que não poderemos fazer nada para nos defender? Por quê? Porque temos medo. Por que é tão complicado se sentir feliz em uma sociedade como a nossa? Como é que conseguimos nos acostumar com o fato de que a justiça nunca é feita para quem é justo? Por que nos contentarmos com a hierarquia feita por nós mesmos? Por que se contentar com um mundo onde tudo se resume a poder, dinheiro e conquistas que muitas vezes nem podem ser cumpridas pelos mentirosos que as prometem? Por que acreditamos nesses mentirosos se sabemos que eles são falsos? Onde está a nossa coragem, por que estamos assim? “Assim…” Sem ação, sem opinião e sem voz.

Como podemos aceitar toneladas de propagandas? Por que aceitamos o descontrole de nossa natureza por nossa própria causa? O fato é que acostumamo-nos a ficar dentro de uma “casa” onde tudo fica trancado.  Toda essa situação reflete um novo sentido à frase: “O mar não está para peixe”. Serve para nós, que nos encontramos em uma situação similar. O mar é nosso mundo, e os peixes somos nós.

Eu procuro respostas para estas perguntas, mas ainda não as encontrei. Porque quando digo “nós”, estou me incluindo também. Se formos à busca da verdade, sei que iremos encontrar, mas o problema é que nunca buscamos por ela.

Observando aquele muro todos os dias, consegui levar para minha vida muitos aprendizados. A conclusão é que nós precisamos encontrar nós mesmos. Saber o real significado de ser livre, ser feliz, amar, falar a verdade, ter voz, não temer e sermos justos.

Quando meu pai olhou no retrovisor e viu que eu sorria, perguntou-me o porquê.

– Acho que entendi, pai – Eu ri – Acho que… Entendi, rs.

Dei um último sorriso mostrando que havia caído na real. O sinal ficou verde novamente e o muro sumiu do meu campo de visão. Fomos embora.

Um ‘passado’ presente.

Autora: Bela Cogo
Ipiranga/PR
Publicado em 17/02/2014

bela..Há pouco tempo conheci uma casa, grande e, em partes, muito bonita. Havia também uma grande quantidade de moradores, absurdamente muitos moradores, mesmo assim, como eu disse, a casa era grande o suficiente para suportar todos. Alguns eram educados e prestativos, outros nem tanto. 

Tudo naquela habitação me encantava e horrorizava ao mesmo tempo. O jardim era o mais o mais belo de tudo, suas ‘árvores’ e flores, como eu sempre desconfiei, além de colorir, também tinha função de abrigar uma fauna enorme. Ele se encontrava em várias partes da casa, em alguns lugares era maior, em outro um pouco menor, pois o solo nem sempre era fértil, e também havia muita destruição, de diversas formas, indiretas e diretas. As diretas eram realmente devastadoras, a flora era arrancada, queimada, invadida por máquinas atrás de dinheiro, sem dó. As indiretas todos, literalmente, cometiam, poluindo as fontes de água, usando aerossóis, construindo fábricas, entre tantas outras assolações. O problema é que isso afeta tudo que depende dos ‘jardins’, os animais, insetos e até os seres humanos.

De uma forma implausível, tudo naquela casa era possível, a cada dia uma coisa nova era descoberta ou criada, desde armas que matam até remédios que curam. Da mesma forma, eu via naquela casa muita injustiça, havia gente passando fome ao lado de gente jogando comida fora. Também via revoluções e revoltas. Via maldade, mas também bondade. Eu via olhares desesperados, tristes, esperançosos, famintos, calorosos, acolhedores, amargos ou alegres.

Outra conclusão que pude tirar é que a engenharia daquela casa era realmente perfeita! Pois era atingida por todos os lados , de diversas formas, contudo, permanecia resistente. Que incrível engenheiro chamado Deus! É uma pena que não saibamos até quando vai aguentar, nem uma rocha permanece instável para sempre, essa casa é poderosa, porém, também é frágil e necessita de cuidados.

Feliz e infelizmente, eu moro nessa casa. Você também. Ela é o planeta Terra. E, o passado descrito nessa crônica é, na verdade, um presente constante e doloroso, vivido por todos.

Na gota de cada suor, uma dose de força para vencer!

Autora: Lígia Abreu
Pocrane / MG
Publicado em 15/02/2014

lígiaBreve noite, tristeza infinda a me subjugar vorazmente, e eu inerme diante todas as marcas passadas. Lembranças não são apenas lembranças, são chagas dolorosas que avassalam meu peito em um crime lento, torturante. Logo você indaga, porque tanta frieza? Eu lhe respondo meu caro, preste bastante atenção. A vida não se define em “mar de rosas” para todos, muitas pessoas precisam vencer na raça, no suor, mesmo que o vencer signifique um simples pedaço de pão.

Uma mudança, nova cidade, novo estado, pessoas novas. Não foi nada fácil, nunca cheguei tão perto de “ser” um lixo. Logo na primeira queda Deus estendeu-me sua mão… E para ser sensata, não passou nem perto de ser apenas uma. Nunca tive nada. Resultado? Morar de favor, e te garanto meu caro amigo, a causa da mudança era incontestável.

Eu, uma criança, onze anos, escola nova. Lá eu aprendi o que significa mágoa. Riam da minha casa sem saberem que eu estava lá por falta de um verdadeiro lar, por não ter condições para pagar um aluguel bacana. Riam das minhas roupas, mesmo sem saberem que eu apenas as tinha, pois alguém de bom coração havia me doado. Riam do meu chinelo menor que o pé, mas não sabiam o quanto doía em mim não ter condições financeiras para comprar um novo. Riam do meu cabelo, que eu lavava com sabão de pedra, por não poder comprar um decente xampu. Riam também dos meus óculos, sem saberem o quanto sofria por não ter uma boa visão… E assim eles construíram um império de gozações… E eu – apática – diante de tudo.

O tempo foi passando e a cada dia eu fui vencendo. Com muito custo, suor e intermináveis dias de trabalho de meu pai, enfim a construção foi acabada, e eu já possuía uma casa. Senti uma necessidade imensa de ser feliz, mas confesso meu amigo, sem saber o que significava felicidade. Eu lutei, trabalhei dias, noites, domingos e feriados, e conquistei um pouquinho do que eles queriam que eu tivesse; dinheiro. Mas para quê? Por que viver em um mundo de aparências, enquanto a alma grita por algo concreto, algo que venha de dentro, do lugar mais profundo do coração?

Noite silente, pensamentos rumorosos. Odeio esses dias em que relembro toda a minha história… Mas por outro lado me sinto feliz e orgulhosa por ser quem eu sou, realmente o passado me tornou uma pessoa mais sábia. Nunca entenderei esse tal bicho homem… Por que tão sedente por dinheiro? É deprimente.

E assim encerro minha cessão de toque em chaga, para dormir, torcendo que o sono cure meus olhos inchados. Mas antes, farei uma prece para todos que agora passam pelo que passei, que superem com garra e vigor. E para quem faz, para quem humilha, eu farei duas!

Fones de ouvido

Autor: Hugo Firmino
Inhumas / GO
Publicado em 14/02/2014

rsQuando estamos sozinhos, procuramos sempre fazer o que não podemos, mas também não nos sentimos à vontade quando acompanhados por alguém. E não é uma solidão tão ruim assim… Por incrível que pareça, é passageira e me faz feliz.

Em meu caso – acredito que não muito distante do seu –, busco sempre fazer ‘’estripulias’’ quando sozinho. Dançar e cantar, mesmo que não fique espetacular. Não estou nem aí – pelo menos até chegar alguém, rs.

Mas isso tudo não é possível sem uma boa música. Aquela que quando toca, sentimos vontade de aumentar o volume e acompanhar cada batida. Quando ainda desfrutamos de fones de ouvido, parece ainda mais estimulante; fantástico!

Num dia desses, consideravelmente tedioso, conectei meus fones de ouvido no celular e fui curtindo nostalgicamente as batidas iniciais. Conforme a música subia pelos fones, todas as boas imagens vinham à tona e colocavam-me em um novo mundo.

Ao longo da música, as luzes das imagens em minha mente ficavam ainda mais brilhantes. Ela controlava-me como uma marionete. Transportava-me para cada paisagem, transformando o pouco espaço que tinha, em um grandioso palco. Eu cantava, dançava e pulava de alegria!

A alegria foi eterna enquanto durou, até que chegou alguém. Disfarcei diante da cena e continuei cantando, só cantando… Eles já estão até acostumados com os “micos” diários que eu sempre pago, rs. E ao fim de tudo, nenhuma vergonha ou timidez é mais importante que a imensa e incrível felicidade que sinto.